* Por Frederico Mattos
“A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o Sol. Nenhum vento o atravessa, ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas. Assiste aos sucessos dos homens e este espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é o seu suplício”
Ovídio
Vai um vodoo hoje ?
Outro dia li num parachoque de caminhão “o tamanho da sua inveja é a força da minha vitória”. Me perguntei se isso realmente motivaria alguém, percebi que sim, muita gente aliás. Um invejoso alimenta o outro.
Notei que pouco se fala sobre a inveja e vejo que ela está muito mais presente nas relações humanas do que gostamos de acreditar.
Costuma-se confundir a ideia de ciúme e inveja. Isso se deve talvez porque o ciúme envolva três pessoas, e sente-se ciúme por que alguém a quem se ama, ou a quem se está ligado, demonstra interesse ou afeição por outra pessoa e é considerado normal e por isso o ciúme é mais tolerável e perdoável. Até judicialmente o ciúme tem atenuante nos crimes.
Mas com a inveja o quadro é diferente: ela envolve basicamente duas pessoas, e inveja-se o que a outra pessoa possui,  suas características, ou capacidades, conquistas e qualidades pessoais.
A inveja envolve uma qualidade espoliadora ou pelo menos hostilidade para com as boas capacidades da outra pessoa, ainda que isso possa não ser reconhecido.
Se se destrói por ciúme, aparentemente há uma razão para tanto.
Mas na inveja a espoliação se faz por  ódio velado e parece não haver nenhuma circunstância atenuante.
O conto da raposa e das uvas mostra o invejoso que não consegue a posse do objeto do outro e destrói com pensamentos, palavras e ações. O mito de Lúcifer, também.
Num conto de fadas clássico o ponto central da trama envolve a inveja: Branca de Neve e os sete anões.
A “rainha má” não consegue suportar a beleza, a jovialidade e a gentileza de sua enteada Branca de Neve. Então a faz ser expulsa de casa para transformar-se numa velha bruxa e enfeitiçá-la com uma maçã envenenada. É a forma mascarada da pessoa invejosa se aproximar de sua vítima para destruí-la.
A inveja parece estar ligada à voracidade, mas é diferente dela.
Na voracidade a pessoa quer obter algo, desconsiderando o custo para a pessoa de quem ela quer esse algo,  e reconhece que há algo de bom a ser obtido.
Mas a pessoa que é invejosa não está interessada em obter algo para si própria e usufruir isso e sim em tirar algo da outra pessoa, algo de que ela tome posse, de forma que se torne parte de si própria.
A pessoa invejosa é espoliadora injuriando, danificando e ferindo outra pessoa/posse. Psicologicamente também ferindo os atributos e as conquistas de outra pessoa em sua própria mente em pensamento ou externamente, por meio de críticas, escárnio ou provocação.
Segundo o dicionário Aurélio a inveja é o “desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem, desejo violento de possuir o bem alheio”
A inveja está entre os sete pecados capitais e é por causa da inveja ou popularmente “olho gordo” e “mau-olhado” que surgiram os amuletos, frases, rezas e outros procedimentos mágicos.
18 maneiras de identificar a inveja no dia-a-dia.
1- Sentimento de ressentimento quando alguém está a frente.
2- Quando temos uma espécie de crítica incessante ou constantes alfinetadas.
3- Quando a pessoa não consegue ver nada a elogiar ou a valorizar em outro indivíduo, mas só acha dúvidas “bem, estava bom, mas…” e encontra sempre alguma razão para duvidar da outra pessoa ou derrubá-la.
4- Quando a pessoa não sossega enquanto não consegue algo que alguém tem, como um bom emprego, carro, cônjuge, etc.
5- Quando a pessoa se incomoda com inteligência tranqüila e a paz de espírito de outra pessoa e se põe a cutucá-la e a provocá-la até que ela perca a calma.
6- Incapacidade de reconhecer ajuda e informação ou com dificuldade em aprender e fazer trabalho grupal.
7- Quando a pessoa não tolera escutar o que a outra pessoa tem a dizer, e encontra todo tipo de artifício para parar a conversa, tomando conta do assunto, paralisando-a, porque não consegue tolerar ouvir coisas divertidas, experiências e pensamentos interessantes que venham de outra pessoa.
8- Não consegue encarar algo de bom que lhe seja dado por outra pessoa, pois essa pessoa tem algo antes dele, levando a dificuldade de sentir gratidão.
9- Dificuldade no relacionamento amoroso e busca de solidão, pois ninguém é interessante o suficiente.
10- Dificuldade ou bloqueio em sentir prazer físico, emocional, sexual, intelectual e espiritual e de amar, devido a incapacidade de estabelecer relacionamentos bons, calorosos e confiáveis.
11- Quando a pessoa tem um excesso de desconfiança dos outros e não se abre o suficiente para que os outros a conheçam.
12- Quando a pessoa tem um sentimento de prazer, mas em seguida lhe vem a sensação de que poderia ter mais.
13- Quando o marido ou a esposa expõe seu cônjuge a situações de humilhação, explorando a masculinidade ou feminilidade.
14- Quando o marido se ressente da relação da mãe com o bebê, invejando a capacidade da esposa de cuidar, amamentar e criar do filho.
15- Quando a pessoa vive envolvida com fofocas e desmerecendo as conquistas alheias.
16- Pessoas que vivem praguejando os outros.
17- Ser o desmancha prazeres que conta que vai ter uma festa surpresa ou aquela pessoa que adora falar verdades na cara dos outros.
18- Quando conquista a pessoa desejada e logo perde o interesse. Normalmente era a inveja que mobilizava aquele desejo, depois que a vítima foi “conquistada” já não é mais útil para o invejoso que vai passar a admirar outro alvo.
mecanismos de defesa para fingir que você não tem inveja
Seria desconfortável e perturbador ficar constante ou freqüentemente ciente de sentimentos invejosos. E a maioria das pessoas busca manobras e defesas contra a vivência da inveja.
Essas defesas ajudam temporariamente a pessoa a sofrer menos, mas também podem gerar outros problemas. Há freqüentemente uma mistura entre a expressão real da inveja e as defesas contra ela.
Nem sempre é possível dizer que se trata de um ataque invejoso ou uma defesa.
1- Idealizar a pessoa que provoca a inveja de tal forma que ela é vista como tão linda, especial ou tendo capacidades tão marcantes, que a distância entre a outra pessoa e si próprio fica tão grande que aparentemente nenhuma comparação é possível. Isso mantém a pessoa potencialmente invejada num pedestal e fora do alcance. Na terapiaisso pode ficar claro na relação com o terapeuta.
2- Outra forma é desvalorizar a si mesmo de forma tão exagerada, numa falsa humildade, colocando-se como tão pobre e limitado, aumentando assim a distância entre si mesmo e a outra pessoa. Seu discurso soa masoquista e lisonjeiro, mas pode deprimir tanto a pessoa ou torná-la hipócrita, sem valor e sem esperança que ela começa a chafurdar nesse estado, piorando as coisas. O discurso depressivo ou a raiva crônica pode estar alicerçada no sentimento de inveja.
3- Aquele aluno que comporta-se na aula como se engolisse a lição do professor sem acompanhar o que este está realmente querendo dizer, como se tornasse professor de si mesmo. E assim ele tem a vivência de que nada é lhe dado de bom e que, portanto seria invejável e assim a inveja é evitada. Engole antes que lhe seja dado.
4- Tentar provocar, sutilmente ou não, inveja nos outros fazendo com que se apercebam de suas qualidades ou capacidades particulares, de modo que lhes provoque inveja. O que redunda num cotidiano cheio de competitividade, hostilidade e inveja, fazendo a pessoa sentir-se superior como se tivesse todas as boas qualidades, porém ameaçadas.
5- Restringir contatos, evitar áreas de convivência íntima que estimulem a rivalidade e inveja, e assim nunca ser realmente desafiado. Dessa forma impedindo que fosse colocado numa posição inferior, invejosa ou necessitada de ajuda dos outros. Dificuldade profissional em passar por processos seletivos e enfrentar a competitividade. Não ter relacionamentos íntimos para impedir as comparações.
6- Pessoas mais velhas ou idosas que tem dificuldade de deixar as próximas gerações terem sucesso, conhecimentos, talentos e um futuro melhor que a geração mais velha não pôde ter. E com isso viver uma velhice fechada para os mais jovens, sem revigorar a roda da vida tornando-se ranzinza, com dificuldades de usufruir o que teve e o que ainda tem.
Superando a inveja
Mas para lidar com a inveja é preciso reconhecer que ela faz parte de nossas vidas e personalidade em maior ou menor grau.
É preciso que a pessoa tenha suficiente afeto e amor disponíveis, capacidade de sentir calor humano e gratidão, para poder contrabalancear sua rivalidade e sua inveja, e ainda assim estar consciente de sua existência e permitir que os outros seres humanos tenham qualidades próprias.
Diante da inveja se tem o desejo de descobrí-la, camuflada em nosso inconsciente, como um espião inimigo, para assim dar-lhe um fim rápido e definitivo. Tentar extinguir a inveja é inútil e perigoso, pois só faz estimular seu apetite de desmancha prazeres e ainda a ilusória impressão de havê-la derrotado de uma vez por todas.
Ajude a pessoa a diluir seu senso de autoimportância e ajude-a a rir de si mesma.
Deve-se transformá-la em uma energia de conquista e competição saudável para a realização de ideais com bases éticas na busca do aprendizado e da autossuperação.
É preciso ajudar o invejoso proporcionando insights das profundezas reais da inveja e redescobrir e libertar o amor e a gratidão que foram sufocados, ajudando assim a pessoa a integrá-los. Recomende esse texto! hahahaha
E isso por si só pode levar a um alívio considerável e ajudar a afrouxar as garras terríveis dos sentimentos invejosos, levando a um círculo mais benigno.
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Captura de Tela 2013-09-13 às 17.34.09* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.
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